João Baldisseri Júnior: Desenhando a vida com dedicação e amor
A paixão pelos quadrinhos e a dedicação aos desenhos sempre moveram a vida de João Baldisseri Júnior. Este aposentado de 69 anos, ainda que no outono da vida, mantém viva a paixão pela arte de desenhar e criar personagens do imaginário reino dos super-heróis. Natural da cidade de Delfinópolis (MG), Baldisseri mudou-se com os pais para Araxá ainda criança, aos 3 anos de idade. É com entusiasmo quase juvenil que ele recebeu a reportagem da REVISTA ARAXÁ em sua casa, para falar um pouco dos desenhos e das histórias dos quadrinhos que sempre nortearam sua vida. Ele conta que “tudo começou por volta dos anos 1960, quando, ainda jovem, rabisquei os primeiros traços e notei que tinha vocação para o desenho - quando eu estava cursando o ginásio.” O desenhista revela: “O meu primeiro passo no mundo dos desenhos foi descobrir a editora paulista chamada Edrel, que só publicava quadrinhos de desenhistas brasileiros. Era uma editora muito sólida, que dava todo o apoio e aparato para que os novos desenhistas pudessem seguir e desenvolver seus trabalhos. Mas infelizmente, por divergência de gestão administrativa, a editora Edrel acabou falindo e acabando com o sonho e as oportunidades de muitos desenhistas novatos como eu. Na época, eu cheguei a enviar muitos desenhos para a Edrel.” Baldisseri acrescenta: “Eu comecei desenhando super-herói como o Homem-Aranha, mas tive um conselho de um desenhista paulista famoso, Benedicto Ignácio Justo, que disse para eu largar o ‘Homem-Aranha’ de lado e buscar criar meu estilo próprio. No entanto, a falta de apoio, a falta de treinamento para melhorar o traço atrapalharam essa fase da minha carreira.” João Baldisseri revela que, “já na década de 1970, mesmo com a falta de estrutura e conhecimento, a gente achava que era bom, e o amor pela arte acabou sendo o combustível para a gente continuar desenhando, criando e sonhando colorido. Neste período, além de enviar meus desenhos amadores para as editoras brasileiras, eu também comecei a criar e escrever histórias para essas editoras especializadas em quadrinhos. Como todo o Brasil passava por dificudades gerais em razão da ditadura militar, tudo era muito complicado, e eu decidi parar com os desenhos por mais de dez anos, desiludido pelos fracassos e [pela] falta de oportunidades.” Mas a história e os desenhos, que sempre foram a vida de Baldisseri, voltaram à cena nos anos 90. Ele conta que “aquela arte e o encantamento com os quadrinhos e os desenhos voltaram com tudo quando Araxá sediou quatro encontros nacionais com a participação de grandes nomes do desenho, ilustradores e quadrinistas famosos do Brasil como: Son Salvador, Gustavo Machado, Júlio Chimamoto, Ofeliano de Almeida, Eugênio Colonnesse entre outros. Foram esses encontros, a motivação e a troca de experiência que me fizeram renascer para os desenhos. Com dicas e orientações, eu comecei a desenhar com técnica, conhecimento e observando detalhes como altura dos olhos e posição dos personagens. Foi um tempo de evolução.” O desenhista também contou: “Depois dessa segunda fase, eu não parei mais. Hoje, aos 70 anos, continuo desenhando, sonhando, criando personagens e histórias e descobri que meu estilo é o bangue-bangue, o faroeste com terror, muita ação e aventura, sempre muito bem ambientado no cenário do oeste americano. Inclusive, recentemente, o Dr. Renato Zupo, nosso juiz de Direito, que também é escritor, me perguntou por que eu não fazia personagens nacionais como o cangaceiro, por exemplo. E eu respondi, por experiência de longa data - porque não vende e ninguém lê.” Apesar das dificuldades, Baldisseri se orgulha de ter publicado suas histórias, personagens e quadrinhos em várias revistas de editoras nacionais de Curitiba e São Paulo, nas décadas de 70 e 80. Revistas como: Calafrio, Mestres do Terror, Armados do Terror entre outras. Na fase atual, o desenhista explica: “Eu tenho criado muita coisa atualmente e noto que estou sempre evoluindo. Ainda tenho a ideia de projeto inédito de uma revista para publicar esse trabalho novo, atual e inédito. Hoje eu levo em torno de umas três horas para criar um personagem. Entre meus personagens exclusivos, posso lembrar da Vampira Sura e a delegada Suriane. Minhas histórias e desenhos nascem de forma espontânea e naturalmente. Inclusive, atualmente tenho outra inspiração para os desenhos, que é o meu neto Daniel, de 11 anos, que é um apaixonado por desenhos e quadrinhos e que, inclusive, já tem arriscado alguns traços bem bacanas e leva jeito para a coisa.” A dedicação e talento de Baldisseri vão além da arte. Ele também cria layout, arte final e cria as histórias. “Eu uso material simples: papel couchê, lápis e caneta de retroprojetor. Todo dia eu desenho, e os quadrinhos são a minha inspiração de vida. Para mim, o desenho é mais que uma arte: é uma forma especial de vida, pois, quando estou desenhando, eu não penso em nada. Minha imaginação fica leve, solta e equilibrada. É uma viagem incrível. Um sonho colorido e um exercício suave de paciência.”
João Baldisseri Júnior, faleceu aos 74 anos em 2024.
A reportagem faz parte da edição 06 da Revista Araxá de setembro de 2017.
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