Carmela Pezzuti – Uma Mulher de Fibra

Descendente de tradicional família araxaense, era filha de Pedro Pezzuti, competente médico da Santa Casa de Misericordia de Araxá, e que hoje empresta seu nome a um populoso bairro da cidade e de dona Tiburcia de Ávila Pezzuti, eram seus irmãos Ângela, Suzana e Ítalo Pezzuti, contraiu matrimônio com o comerciante local, senhor Throfredo, com o qual tiveram os seus dois filhos que se chamavam Ângelo Pezzuti Silva e Murilo Pinto da Silva, teve quatro netos cujos nomes eram Juarez, Mayra, Jerônimo e Ináh. Esposa, mãe, avó, Carmela Pezzuti foi uma mulher lindíssima, muito bonita mesmo, até na prisão, ou no exílio, nas horas de grande tormenta, como foi a morte de seus filhos, foi uma mulher de muita fibra e que jamais abandonou os seus ideiais e as suas convicções políticas. Nascida em Araxá em 1926, sua entrada para a militância ocorreu quando tinha quase 40 anos. Foi levada pelos filhos, ambos integrantes do grupo COLINA.
Divorciou-se aos 37 anos por incentivo dos filhos Ângelo e Murilo. Sem algum auxílio do ex-marido, teve que começar a trabalhar. Tentou ser vendedora de livros, depois vendeu máquinas de lavar, mas por intermédio de um cunhado acabou como secretária no gabinete do governador mineiro Israel Pinheiro. Envolveu-se com um deputado conservador ao mesmo tempo em que se engajara na organização de guerrilha Comandos de Libertação Nacional.
Em fins dos anos 1960, Murilo era estudante secundarista e Ângelo estudante de Medicina na UFMG. Carmela começou a observar a mudança no comportamento dos filhos. Eles chegavam em casa junto com os amigos e se trancavam no quarto. Ela levava lanche para o grupo e eles mudavam o assunto quando ela entrava.
Após muita insistência de Maria Auxiliadora Barcelos, a Dodora, também estudante de medicina, os filhos de Carmela resolveram chamar a mãe para a militância:
Por intermédio de Dodora, começou a ler Regis Debray, Che Guevara e demais clássicos da esquerda. Ângelo deu de presente o livro do Gorki. Na organização, junto com a Dodora ela abriu uma loja de bijuteria para arrecadar fundos, depois começou a fazer documentos falsos. Isso ao mesmo tempo em que trabalhava no Palácio.
A determinação de Carmela em militar chamava a atenção dos demais integrantes do grupo. Segundo Irani Campos:
No dia em que os filhos e os demais companheiros da organização foram presos em uma casa que servia de “aparelho”, ela recebeu a notícia no trabalho, na sede do governo do Estado. Naquele momento ela percebeu que seria melhor e mais seguro entrar para a clandestinidade, no entanto, ela já estava sendo perseguida e poucos dias após o episódio da prisão dos filhos ela foi presa, em 1969.
Inicialmente foi levada ao presídio feminino ainda em Belo Horizonte. Lá ficou 75 dias na cela “surda”, uma cela pequena, silenciosa e incomunicável. Ficava boa parte do tempo deitada, pois a cela tinha o teto baixo. De iluminação, somente uma claraboia.
Depois foi transferida para a penitenciária de Linhares, por falta de provas contra ela, ficou em liberdade condicional. Fora da prisão resolveu continuar na militância clandestina mais uma vez:
Lá no Rio de Janeiro foi presa novamente, sob o nome de Virgínia. Entraram na casa em que ela estava já atirando. Foi levada para o DOI-CODI. Foi torturada e depois levada para Juiz de Fora, mas para outro presídio, que não Linhares. Ao saber da volta da mãe, Ângelo retomou contato:
Em 1970, juntamente com mais 69 prisioneiros, foi trocada pelo Embaixador Suíço Enrico Bucher. Seu primeiro destino foi o Chile, onde reencontrou Ângelo. Com o golpe contra o presidente Allende, em 1973, foi para a Itália. Pôde reencontrar Murilo.
Representou o Brasil no Tribunal Bertrand Russel, que condenava crimes de guerra e a ação dos EUA em golpes militares e financiamento de torturas, em depoimento muito ovacionado.
Perdeu o filho mais velho na França, em acidente de motocicleta, em 1975. Quando foi anistiada, em 1979, voltou e recomeçou a vida no Brasil.
Engajou-se na Associação de Apoio a Creches Comunitárias, chamada Casa da Vovó, que teve como base sua experiência como babá, na Itália. Em 1984 foi ao Mato Grosso ajudar Murilo Silva, na Associação de Apoio às Comunidades Carentes daquele estado. Muito deprimido, ele suicidou.
Carmela morreu em 2009, aos 82 anos.
Ironicamente, após passar boa parte da vida militante tentando esquecer informações para não entregar nenhum companheiro, passou os últimos anos diagnosticada com mal de Alzheimer.
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