Educação Financeira X Educação Patrimonial
Dra. Karina Prado - Advogada, Escritora e Palestrante - Instagram:@karinaprado.adv

Educação Financeira X Educação Patrimonial
Por muito tempo, as pessoas não se preocupavam em ter uma Educação Financeira. Nos últimos anos, temos visto um crescente aumento em informações sobre o assunto, como livros, filmes, palestras e workshops, fazendo com que as pessoas passem a se atentar à esta questão, como o Gustavo Cerbasi, com o livro Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, de 2004.
Um importante marco institucional da educação financeira no Brasil, foi o lançamento da ENEF (Estratégia Nacional de Educação Financeira), instituída por decreto presidencial em 2010 com o objetivo de promover ações coordenadas entre governo, iniciativa privada e sociedade civil para melhorar o nível de educação financeira da população. Sendo coordenada pelo Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef) e abrange inclusão do tema em escolas públicas e privadas, ações de capacitação para professores e parcerias com o setor financeiro para disseminação de conteúdo.
Outro marco fundamental foi a inclusão da educação financeira na BNCC – Base Nacional Comum Curricular, que desde 2017 passou a ser transversal no currículo escolar da educação básica, especialmente nas áreas de Matemática e Ciências Humanas. O ensino de educação financeira se tornou obrigatório em escolas públicas e privadas de todo o país.
E nos últimos anos, vemos a popularização de fintechs, influenciadores de finanças e plataformas de educação digital como Me Poupe!, XP Educação dentre outros, que ampliou muito o alcance da educação financeira no Brasil, especialmente entre jovens.
Ou seja, “a maré virou” e aprender a poupar, investir e consumir com consciência nunca esteve tão em alta. Mas, no meio dessa onda de informações sobre finanças pessoais, um conceito segue esquecido no canto da sala: a educação patrimonial.
A maioria das pessoas já ouviu falar de educação financeira. Ela ensina o básico e o essencial como controlar gastos, sair do vermelho, montar uma reserva de emergência e, quem sabe, começar a investir. Trata-se de aprender a lidar com o dinheiro do mês — com o fluxo de caixa da vida.
Mas a educação patrimonial é o que vem depois. É sobre construir, proteger e perpetuar o patrimônio ao longo do tempo, muitas vezes pensando em mais de uma geração. Enquanto a educação financeira nos ensina a acumular, a educação patrimonial nos ensina a manter. Ela envolve planejamento sucessório, proteção de bens, estruturação jurídica, e até a discussão sobre o propósito do patrimônio.
A diferença está no horizonte de tempo e na complexidade. Educação financeira é para todos, e deve começar cedo. Educação patrimonial, embora também devesse ser democratizada, ainda é vista como coisa de gente rica, o que não deveria ser. Afinal, patrimônio não é sinônimo de fortuna, é o que você constrói com esforço, podendo ser uma casa, um pequeno negócio, um carro, um terreno no interior. Tudo isso precisa ser protegido e pensado com estratégia.
No Brasil, onde menos de 20% da população investe de forma recorrente e mais da metade está endividada, falar de educação patrimonial pode parecer prematuro. Mas é justamente aí que mora o problema, só começamos a falar de patrimônio quando ele já existe ou quando estamos prestes a perdê-lo.
Ensinar educação financeira sem abordar a educação patrimonial é como ensinar alguém a pilotar um barco, sem explicar como manter esse barco flutuando por anos. E o pior, sem explicar como garantir que os filhos “conduzam este barco” no futuro, perpetuando .
Se quisermos criar uma relação mais saudável e duradoura com o dinheiro, precisamos ir além do “quanto eu ganho e quanto eu gasto”. Precisamos fazer perguntas como: “O que eu estou construindo? O que quero deixar? Como garantir que isso não se perca?”
Afinal, dinheiro é meio. Patrimônio é legado.
Qual é a sua reação?






