A Proposta
A movimentação na casa de nº 49 da rua Alexandre Gondin, começou bem cedo, motivada pela viagem a Brasília. Virmondinho, o filho, muito calmo, iria dirigindo para seu pai, o Virmondão e sua mãe Dona Neiva. Um dos motivos da escolha do Virmondinho para motorista, ao invés do Beto, seu irmão, era sua calma e o profundo conhecimento do trânsito de Brasília. Iriam visitar a filha Eliana e aproveitando a ocasião, levar uma pessoa – que a pedido da filha – conseguisse preencher a lacuna deixada por uma ex-funcionária da casa, que falecera.
A escolha feita pela Dona Neiva, era Iracy, que era esposa de um também ex-funcionário do Virmondão, o Oswaldo, e era bem conhecida da família. Viajaria também o filho de Iracy, o Junior, um rapaz de 16 anos, que iria tentar a sorte no Planalto Central.
Eliana, que fizera este pedido a mãe, é esposa do conhecido Francisco Xavier Balieiro Jr., o Chicão do Banco do Brasil como é conhecido em Araxá, hoje aposentado como alto funcionário do Banco Central. Quando trabalhava em Araxá, além de labutar no banco, Chicão era um competente técnico de Futebol de Salão, com esquemas táticos de fazer inveja a Josep Guardiola. Mas deixemos isso pra lá e vamos a entrevista de trabalho.
Em sua mansão, localizada no Lago Norte, Eliana recebeu a todos com um lauto almoço, com a mais farta comida mineira, como era do agrado do seu pai. Após o rega-bofe, foram para uma ampla sala, onde teve seu primeiro contato para falar de trabalho com sua provável funcionária. Dona Neiva foi a primeira a falar das qualidades da Iracy e o porquê de sua escolha recair nela: honestidade acima de tudo.
Eliana por sua vez, expôs o porquê de sua prioridade recair sobre uma pessoa conhecida. A esta pessoa seria entregue sua casa e sua família. Olha bem a responsabilidade. Daí a preferência por uma pessoa de Araxá, sem os vícios da maioria das funcionárias de uma cidade grande. Antes mesmo de falarem sobre salário, Eliana foi mostrar os aposentos onde Iracy, se acertassem, iria morar.
Era uma casa, separada da casa principal, em meio a arvores e coqueiros, composta de três suítes, sala, cozinha e uma varanda com área de serviço. Dentro da casa, toda mobiliada, com TV de 29’ – à cabo. Corria os anos 90. Piso em tábua corrida nas suítes e piso frio no resto. Simples. Iracy estava maravilhada. Iriam ver agora a casa principal e sentariam para acertar os detalhes finais.
Nesse intervalo, de passarem de uma casa pra outra, Eliana explicou que – caso acertassem – Iracy teria que fazer o trabalho onde moravam – pasmem – quatro pessoas.
Após conhecer todas as dependências da casa da futura patroa, foram novamente para a sala, onde estavam Virmondinho, Dona Neiva, Virmondão e o Junior.
__O que você achou da casa Iracy, perguntou Dona Neiva.
__Uma beleza... Nunca vi nada tão bonito, respondeu a Iracy.
Depois de um breve silêncio, Eliana falou:
__Iracy, quero que você saiba, que o seu salário será completamente livre de alimentação, e minha proposta para você e também para o Junior, que fará o serviço de jardinagem e nas horas vagas também poderá de dar uma ajuda, é de Cr$7.000,00 por mês, para você arrumar, lavar, passar e cozinhar. A piscina eu já tenho um pessoal que dá manutenção.
O que você acha?
Acostumada a ganhar um salário mínimo aqui em Araxá, Iracy não cabia em si de tanto espanto, por isso, seu demorado silêncio, levou o Virmondão a chamar o Virmondinho num canto e falar baixinho:
__Se ela não aceitar, ocê pega pra nós dois...
Qual é a sua reação?