‘Caso Verdade’ SOS Araxá – Avião em voo cego
Mergulhando nos acontecimentos importantes e curiosos que fizeram parte da história de Araxá no final do século passado, hoje destacamos, com riqueza de detalhes, a incrível e real história ocorrida no ano de 1983 e que acabou virando tema do famoso programa da Rede Globo denominado “Caso Verdade”. Para contar esse fantástico e emocionante “Caso Verdade”, a REVISTA ARAXÁ conversou com dois dos principais personagens desse evento que se passou no dia 15 de março de 1983, nos céus da cidade de Araxá: o ex-radialista Paulo César de Oliveira e o empresário e dentista José Deusdeti de Resende. Paulo César de Oliveira, hoje, cozinheiro, e com 54 anos, nos conta que: “Para começar falando desse episódio, eu digo que foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida, principalmente por eu estar no começo de carreira como radialista na Rádio Imbiara de Araxá. As pessoas, na época, nos viam como herói, mas eu nunca tive essa pretensão. No entanto, vendo a situação e a gravidade do fato, a gente teve uma importância relevante no desfecho do caso em que pudemos salvar vidas e evitar uma tragédia.” Na época, PC tinha vinte e um anos e comandava um programa noturno da Rádio Imbiara de Araxá – AM, denominado “Imbiara Superjovem”, apresentado de segunda a sábado, depois da Voz do Brasil, até por volta de meia-noite. Ele revela: “Eu me recordo, como se fosse hoje! Naquele dia, o tempo, em Araxá, estava normal, com sol forte, mas, por volta das quatro horas da tarde, o tempo começou a mudar de repente, armando uma tempestade. E esse temporal se confirmou por volta das sete horas da noite, quando eu me dirigia para a emissora. E diante daquela chuva forte, eu notei, no céu, um barulho de um pequeno avião que sobrevoava a cidade, insistentemente, como se estivesse perdido ou sem rumo. Diante desse fato, o Dr. José Deusdeti de Resende, diretor da Rádio Imbiara, também apareceu na emissora, muito preocupado com o fato.” O radialista afirma que o céu escureceu de repente, as nuvens estavam baixas, e um turbilhão de raios e trovões tomava conta dos céus de Araxá. “E ao lado do Dr. Deusdeti, descobrimos que o avião estava mesmo perdido, levando pai e filho [o pai, um empresário da cidade de Uberlândia]. E diante daquela situação de extremo risco, Dr. Deusdeti tirou a Rádio do ar [no momento em que se exibia o programa ‘A Voz do Brasil’], para tentar um contato ou coisa parecida com os tripulantes do avião, que estavam sem norte e, àquela hora, com pouco combustível, em meio a uma forte tempestade nos céus de nossa cidade. “Paulo César conta, também, que o diretor da rádio já havia feito contatos com a torre do Aeroporto Romeu Zema, com a Cemig e com algumas autoridades locais, na tentativa de socorrer o empresário e seu filho. Com a rádio fora do ar [o que era perigoso, pois somente em casos extremos se poderia interromper a transmissão do Programa “A Voz do Brasil”], Dr. Deusdeti me pediu para entrarmos em cadeia com a rádio FM e tentar entrar em contato com a aeronave, e, por sorte, o filho do piloto do avião já tinha trabalhado em uma emissora de rádio na cidade de Uberlândia e, por Deus, ele conseguiu colocar o rádio do avião na frequência modulada [rádios] e, ao sintonizar a Rádio Imbiara, ele foi ouvindo a nossa mobilização em terra e fomos dando orientações para eles”.
A OUSADIA DO DIRETOR DA RÁDIO IMBIARA
O odontólogo e diretor presidente da Rádio Imbiara de Araxá, Dr. José Deusdeti de Resende, contou, com exclusividade, à REVISTA ARAXA: “Eu me lembro perfeitamente daquele caso, e foi muito interessante, pois a gente notava, naquele dia, que o tempo estava muito fechado, com ventos e chuva fortes, e a gente escutava um avião voando em círculo, parecendo estar perdido. E em contato com o Dr. César Mesquita, ele me alertou que esse avião estaria perdido e que o Cindacta (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo) havia lhe pedido para que a gente tentasse ajudar e fazer o possível para salvar as vidas desse avião. E eu saí de casa e fui para a rádio numa correria danada, tiramos a “Voz do Brasil” do ar e convocamos a população, informando, por meio do locutor Paulo César de Oliveira, que havia um avião girando em torno de Araxá e que corria o risco de cair se não fizéssemos alguma coisa.” Deusdeti ainda revela que “a Polícia Militar ficou encarregada de organizar os carros no Aeroporto Romeu Zema, e, dentro de poucos minutos, nós conseguimos, via Rádio Imbiara, colocar mais de 800 veículos lá no aeroporto.” Deusdeti explica que “foi uma ação de mobilização muito grande, em que a população entendeu que, quando a causa é boa, a gente tem que ser solidário, e o Paulo César de Oliveira foi muito importante nesse caso, usando, como ferramenta, o microfone da nossa Rádio Imbiara.”
O DESFECHO DO CASO
PC diz ainda que: “A gente pegava informações com o aeroporto e repassava para eles. Sendo assim, com a tempestade contínua, o combustível do avião no final e o aeroporto de Araxá que não tinha iluminação naquele tempo, decidimos aproveitar a grande audiência da emissora e convocar os motoristas de Araxá para irem até o Aeroporto Romeu Zema, iluminar a pista. E nós conseguimos mobilizar quase mil motoristas que, num gesto de solidariedade e bondade, enfrentaram o temporal e lotaram a avenida Amazonas até o aeroporto da cidade. E graças a Deus, com apoio da Polícia Militar, os motoristas foram posicionados estrategicamente ao longo da margem da pista de pouso e decolagem do Aeroporto Romeu Zema de Araxá. É bom citar, também, que, com muito custo, as autoridades da época conseguiram que a Cemig desligasse as luzes do setor norte da cidade, onde fica o aeroporto, para que as luzes dos veículos fossem a única referência para nortear o pouso do avião.” Em tom de alívio, Paulo César fala como se estivesse vivendo o acontecimento naquele exato momento: “Graças a Deus, o avião desceu com toda a segurança, mesmo no limite, pois o combustível estava no fim, e pai e filho se salvaram. Acho que além do esforço concentrado dos araxaenses, o avião desceu amparado pelas mãos de Deus.” Paulo César diz que “após o pouso do avião, a cidade inteira não dormiu. Foi uma festa e tanto! Eu conheci o piloto e o filho dele e, até pouco tempo, nós mantínhamos contato.” Finalizando, o radialista contou que “a Rede Globo, sabendo do fato, mandou uma equipe de roteiristas até Araxá, solicitou as fitas de gravação da rádio naquela noite e, com as permissões da direção da emissora e do piloto do avião e de seu filho, produziu um programa “Caso Verdade”, que, na época, era um tremendo sucesso. O diretor da série, na época, Milton Gonçalves, chegou a me convidar para viver o papel do radialista, mas eu achei que era muito para mim. No elenco, trabalharam os atores Otávio Augusto, Gilberto Martinho, e o ator global que viveu o papel do radialista Paulo César foi Paulo Boni. O episódio do Programa “Caso Verdade” sobre essa incrível história teve o nome de: “SOS Araxá – avião em voo cego” e foi exibido em cinco capítulos, entre os dias 12 e 16 de setembro do ano de 1983, com duração de 25 minutos cada capítulo.
A reportagem faz parte da edição 04 Revista Araxá de outubro de 2016
. Atores Milton Gonçalves e Maria Alves
Ator Otávio Augusto
Radialista Paulo César de Oliveira
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