Dúvida, instabilidade e volatilidade: o impacto do pacote do IOF, segundo analistas
O recuo do governo em parte do aumento do IOF não foi suficiente para conter os efeitos negativos da medida, avaliam economistas e analistas The post Dúvida, instabilidade e volatilidade: o impacto do pacote do IOF, segundo analistas appeared first on InfoMoney.


O recuo do governo em parte do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para arrecadar mais recursos e fechar as contas do orçamento não foi suficiente para conter os efeitos negativos da medida. Para economistas e analistas, a situação trouxe incerteza, insegurança, instabilidade e volatilidade, o que deve pressionar os juros, o câmbio e os preços dos ativos.
A mudança no IOF foi anunciada na esteira da divulgação do relatório bimestral sobre o controle de despesas. Embora o governo tenha mostrado um cenário mais realista sobre as contas públicas, prevendo contingenciamentos para segurar os gastos – o que foi bem recebido – a escolha do IOF para aumentar a arrecadação não foi bem digerida pelo mercado.
Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine, avalia que o governo criou um precedente arriscado ao recorrer ao IOF para arrecadar mais recursos. “Recorrer ao IOF como instrumento arrecadatório cria precedentes problemáticos e amplifica a percepção de incerteza tributária, especialmente num contexto em que os ajustes fiscais recaem cada vez mais sobre elevação da carga tributária”, afirma.
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Incertezas
O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, diz que o episódio traz incertezas e volatilidade no mercado. “Historicamente, governos que controlam a máquina pública tendem a usar recursos para aumentar a popularidade. Nesse contexto, eventuais sinais de aumento de gastos ou problemas para cumprir as metas fiscais por parte do Executivo podem aumentar a volatilidade”, analisa.
Para Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, a mensagem que fica do episódio é ruim para o Brasil. “A sinalização é péssima, e isso afugenta investidores. Naturalmente, essa incerteza aumenta a aversão ao risco, mesmo com o recuo da medida”, afirma.
“Se o país precisa de recursos estrangeiros para sustentar o mercado, ao adotar medidas como essa, acaba espantando investidores. E o pior: transmite a impressão de que esse tipo de intervenção pode se espalhar para outras áreas, como já se especulava desde a noite anterior. Isso, aliás, levou o governo a recuar da decisão”, avalia Spiess.
Além disso, o recuo do governo na cobrança do IOF se refere apenas a investimentos no exterior. Sung alerta que a elevação do IOF continua sobre a parte de crédito e operações financeiras, o que encarece a rotina de empresas e o crédito das famílias.
Risco fiscal persiste
Em meio ao anúncio e ao recuo, o risco fiscal persiste. Sung destaca que, antes de o governo voltar atrás, as medidas anunciadas iriam arrecadar R$ 20 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026.
“O governo recuou parcialmente, mantendo isenções importantes em relação ao investimento no exterior. [Mas] O movimento [de recuo] deve gerar uma perda de arrecadação, que ainda precisa ser calculado”, diz Sung.
Além disso, apesar do governo anunciar uma contenção dos gastos maior do que esperado, Sung afirma que o Executivo não atacou os problemas estruturais das contas públicas. “Novamente, [o governo] busca o lado das receitas para equilibrar os cofres. Essa sinalização não é positiva”, afirma.
Para ele, o episódio mostra os desafios do governo em equilibrar arrecadação e confiança. “E deixa um alerta sobre como medidas mal calibradas podem gerar efeitos macro, micro e reputacionais relevantes”, avalia.
João Arthur Almeida, CIO Suno Wealth, também alerta para a queda de arrecadação com o recuo na cobrança do IOF, o que deve refletir no mercado.
“O déficit permanece aberto e o mercado absorve esse sinal: sem ajuste estrutural, a percepção de risco fiscal aumenta, pressionando a curva de juros, o câmbio e os preços dos ativos”, avalia.
Para ele, é esperada uma maior volatilidade à frente. “O risco fiscal mais elevado exige maior prêmio nos ativos locais — o que significa preços menores e, consequentemente, algumas oportunidades pontuais para quem estiver bem posicionado”, avalia.
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