Memória Interação: Você sabe quem foi Walter Natal?
“Hoje, Araxá de 150 anos mudou demais! Araxá da minha época de rapazinho era completamente diferente. Araxá era uma cidade pequena, pacata, nem carro tinha. Era um lugar gostoso de se morar. Todo mundo era amigo, a gente conhecia os vizinhos, mas agora, na minha opinião, Araxá de hoje é mais parecida com uma metrópole. Só de automóvel, eu fiquei sabendo que a cidade hoje tem mais de 65 mil carros; para mim, acabou o sossego! Nós hoje não temos mais a tranquilidade dos anos 1940 e 1950. O máximo que a gente tinha naquele tempo era uma bicicleta e, às vezes, já incomodava e chamava a atenção na cidade. A vida na minha juventude em Araxá era difícil. O poder aquisitivo dos moradores era baixo, mas a gente tinha tranquilidade, paz e era muito feliz. Mas por falar no dia 19 de dezembro, a data em que nossa Araxá completa 150 anos, eu também faço aniversário, completo 87 anos. São 87 anos de uma vida, que se esvaíram quase que num surto. Não vi a vida que vivi num tempo tão curto. Araxá é minha cidade. Estive aqui quase a vida inteira. Fiquei fora por um tempo curto, mas voltei! Araxá é minha vida. Sou araxaense de corpo e alma. O futebol faz parte da minha história em Araxá. No meu tempo, era mais correria, mais raça, porque poucos atletas tinham um preparo físico de qualidade e eu levava vantagem, porque era muito bem preparado e corria muito em campo. Esse armazém aqui na Rua Calimério Guimarães também faz parte da minha vida em Araxá. Eu iniciei com o armazém no dia 2 de fevereiro de 1950. Tem 66 anos que estou aqui. Nesses 150 anos da cidade, muita coisa aconteceu em Araxá. Para mim, o fato mais marcante da nossa história foi a visita do Arcebispo Geral do Brasil à sua terra natal (Araxá), Dom José Gaspar de Affonseca e Silva, em 1935. Ele veio passear aqui e foi uma festança danada. Um movimento popular na cidade jamais visto, uma coisa descomunal em todos os tempos de Araxá. Eu era jovem e estava lá para recebê-lo. A cidade e a região pararam para a chegada do Arcebispo Dom José Gaspar. Para mim, foi um dia inesquecível, muito marcante, em 87 anos de vida em Araxá. Outro fato de que me lembro e foi importante na história da cidade foi a visita do ex-presidente da república à nossa cidade, Getúlio Vargas. Foi na época da primeira ditadura no Brasil, e eu me lembro como se fosse hoje. Também estive na recepção a Getúlio Vargas. Ele ficou hospedado no Hotel Colombo, era um senhor baixinho, de óculos e uma bengala e sempre de chapéu e terno, muito alinhado. Foi Getúlio Vargas um dos principais responsáveis pela construção do nosso Grande Hotel do Barreiro. Era um presidente que tinha um carisma popular muito grande. Toda Araxá também parou para receber Getúlio. Como naquela época a cidade ainda não tinha aeroporto, o avião de Vargas pousou num campo de aviação que existia lá no Barreiro. Era um avião oficial de um tamanho louco. Bons tempos da minha Araxá, que não voltam mais...”
PS: Walter Natal faleceu em Araxá, no dia 19 de setembro de 2017, aos 89 anos
Grande jogador de futebol araxaense. Ele brilhou nos campos de Araxá e região vestindo as gloriosas camisas de Najá e Ypiranga, equipes que eram destaque na cidade entre as décadas de 40 e 50. Tinha um comércio tradicional no centro de Araxá; O Armazém
Walter Natal, na esquina das ruas Calimério Guimarães com Mariano de Ávila.
A reportagem faz parte da edição número 01 da Revista Araxá, de dezembro de 2015
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